quinta-feira, 26 de março de 2009

Dois casos e uma mesma problemática

Por: Andréa Oliveira

OBS: texto do semestre passado, mais uma atividade... e como esse caso estava em pauta eu comparei esse momento de espetacularização da imprensa com o que aconteceu com o ônibus 174, que virou um documentário do José Padinha e depois filme do Bruno Barreto.


Durante quase cem horas duas garotas foram feitas de refém, dentro do apartamento de uma delas na região do ABC Paulista, mas precisamente em Santo André. Um jovem de 22 anos Lindemberg Alves Fernandes era o algoz dessas meninas, uma delas sua ex-namorada. A imprensa batia na tecla de um crime passional, um jovem sem antecedentes criminais, que só queria reatar um namoro, mas não foi isso que vimos. A tragédia foi sendo observada pelos milhares de telespectadores que zapiavam os canais a procura de melhores imagens, novos ângulos, depoimentos e até mesmo para ouvir a palavra do seqüestrador.

Em um determinado momento Lindemberg, o jovem coitadinho (imagem que a própria imprensa criou), sabia bem o que estava fazendo. Tanto que em uma de suas falas ele disse “cuidado viu para não acontecer à mesma coisa que no ônibus no Rio de Janeiro, quando um policial metido a sabichão matou a refém”.

Após essa fala, rapidamente lembrei do caso: O rapaz estava se referindo à tragédia carioca que aconteceu no Bairro Jardim Botânico, no dia 12 de junho de 2000, ou seja, o Ônibus 174. Onde uma refém foi morta por um policial após passar quatro horas nas mãos do seqüestrador Sandro do Nascimento.

Mas o que essas duas histórias tem em comum além da morte das reféns? A participação ativa da imprensa nos dois casos, sendo que o telespectador acompanhou o desenrolar da história pela tv, assistindo as tragédias como se fosse uma novela. Episódios que duraram quatros horas, no caso do Rio de Janeiro e cem horas em São Paulo, no seqüestro envolvendo as duas meninas. A imprensa desenhava esses episódios. No caso do Rio de Janeiro ela retratava o seqüestrador Sandro como um jovem negro, viciado, que participou da chacina de Candelária, deixando-o repleto de estereótipos negativos. Já o Lindemberg, sua imagem antes do fim trágico do caso, era de um jovem trabalhador, sem antecedentes, que precisava apenas de ajuda por estar transtornado pelo fim do namoro.

A imprensa sem dúvida controlava todos os acontecimentos, transmitindo de maneira sensacionalista as duas tragédias. Isso sempre pensando na audiência, porque hoje, para os meios de comunicação, a “venda” do produto é de fundamental importância. Para comprovar isso basta assistir a um documentário intitulado “Ônibus 174” que mostra a falta de preparo dos policiais, (motivo de debate nos dois casos) e do poder da imprensa.
A mídia tem um poder tão grande, que em muitos casos ela até atrapalha de alguma forma a situação que está acontecendo. Vou transcrever um dos depoimentos do documentário do cineasta José Padilha, (o mesmo do filme Tropa de Elite), onde um policial fala “a gente podia sim atirar no Sandro, mas nós teríamos meio quilo de massa encefálica no vidro do ônibus e eu não gostaria de assistir isso, a sociedade não ia gostar”.

E uma pergunta me vem à mente: Até que ponto a imprensa limitou o trabalho da policia no Rio de Janeiro e novamente no caso de São Paulo? Essa resposta só Deus sabe!!!

Agora o que vemos é um bombardeio a passividade da policia, a imprensa fica a todo o momento falando: “deveriam ter invadido, demoraram muito”. Esse mesmo discurso foi dito há oito anos no caso do Ônibus 174, mas o que a imprensa deveria fazer é divulgar a falta de equipamento e de preparo da policia.

Assistir ao documentário é se aproximar da realidade e nele é visível o despreparo da policia, o medo de errar em frente às câmeras, e quando a ação é feita parece que tudo foi realizado sem o devido preparo, ocasionando a morte não do algoz mais da vítima. Em São Paulo os policiais colocavam um copo na parede para ouvir o que se passava no apartamento do seqüestrador, onde estão os equipamentos de alta tecnologia? Essa realidade nós não vemos.

Nos momentos de gravidade como os citados, que a população toma consciência de que está desprotegida, a mercê, a violência invade o ônibus, apartamentos e reféns são mortos. A imprensa deveria parar de dramatizar essas ações e de criar na verdade espetáculos com a tragédia alheia, afinal esse não é o seu papel.

As emissoras ao invés de só fazerem criticas, poderiam parabenizar a policia que mesmo sem preparo vai para linha de frente tentar combater o crime. Não adianta bombardear a polícia, ouvir milhares de especialistas ou gente “super entendida”. Falar é fácil, difícil é agir.

Uma coisa eu sei: a professora Geisa Firmo Gonçalves tinha 20 anos quando morreu, vítima de um tiro de um policial que errou o alvo e Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, vítima de Lindemberg, se foram. E em poucos dias essa última vítima fará parte das estatísticas da violência, será mais um número, porque a imprensa vai se encarregar de um novo caso que chame a atenção do telespectador. Ao invés da mídia aproveitar para enfatizar que elas poderiam ter tido outro fim se a imprensa não espetacularizasse tanto os casos e se a polícia fosse bem mais preparada para combater crises como essas.

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