segunda-feira, 2 de maio de 2011

HIV/Aids: mulheres casadas estão em situação de risco

(Matéria publicada no www.cinform.com.br)

Por Andréa Oliveira

O tema é extremamente discutido, mas nem por isso os números param de crescer. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS – cerca de 34 milhões de pessoas são portadoras do HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana. Outro dado alarmante é que 2,7 milhões de novas infecções ocorrem a cada ano. No Brasil, estima-se que 630 mil pessoas vivem com o vírus. Do início da epidemia, em 1980, até 2009, foram notificados 544.846 casos da doença.

O pior: para evitar que o vírus continue sendo disseminado não há uma solução mágica. Não há sequer uma vacina contra o HIV. A solução é simples, utilizar o preservativo em todas as relações sexuais. Mas nem todos têm essa preocupação. Principalmente as mulheres casadas, que consideram que o vírus está distante de sua realidade. Ledo engano.

No começo da epidemia, ele atingia, principalmente, os homens homossexuais, os usuários de drogas injetáveis e os hemofílicos. Hoje, porém, segundo o médico sanitarista Almir Santana, gerente do Programa Estadual de DST/Aids de Sergipe, não há grupo de risco, e sim uma situação de risco.

Afinal, que situação é essa a qual ele se refere? É a de realizar o ato sexual sem o uso da camisinha. Esse tipo de risco é comum entre as mulheres que têm parceiros fixos. Por conta disso, elas passam a não usar o preservativo. Acreditam que estão protegidas por terem um único parceiro sexual. Porém, os dados do Estado de Sergipe comprovam que elas são, sim, vulneráveis.

Justamente por esse não uso do preservativo, elas se colocam dentro do grupo de risco. Em Sergipe, temos 2.443 casos de HIV/Aids, sendo 1.629 casos em homens e 814 em mulheres – proporção de 2 homens para uma mulher com Aids. De acordo com Almir Santana, cerca de 60% das mulheres positivas foram contaminadas pelos seus próprios companheiros. Isto quer dizer que elas são mulheres casadas que acreditam que não usar camisinha seja algo normal na vida de um casal. Mas isso precisa mudar. “As mulheres devem incorporar o uso da camisinha na sua rotina matrimonial”, comenta Almir.

“Antes nos escondíamos para morrer. Hoje nós nos mostramos para viver”

A frase é de Gisele Dantas, uma mulher que há 13 anos tem HIV/Aids. Ela é pensionista da Marinha e trabalha com mulheres soropositivas no Rio Grande do Norte. Gisele pegou o vírus do seu marido. “Meu marido tinha só o vírus, porque é diferente HIV de Aids”, explica Gisele. HIV é o vírus da imunodeficiência humana e a Aids é a síndrome provocada pelo vírus.

Ou seja, existem pessoas que têm o HIV e não têm Aids. Porque a doença pode levar até dez anos para aparecer. Mas é preciso entender que a pessoa com HIV, mesmo não tendo Aids, pode transmitir o vírus. O HIV causador da Aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. E a única forma de combater essa transmissão é realizar o sexo de forma segura, utilizando a camisinha masculina ou feminina.

Além disso, deve-se utilizar seringas e agulhas descartáveis. São cuidados simples que fazem toda a diferença. No caso de Gisele, o não uso da camisinha foi o causador da sua contaminação. Ela era casada e por conta disso mantinha relações sexuais sem o uso do preservativo. Talvez Gisele estivesse no grupo das mulheres que acreditavam, ou ainda acreditam, que a Aids é mesmo uma doença distante da sua realidade. Outra mulher que também foi infectada pelo marido foi Rosaria Piriz Rodriguez, que vive com Aids há 14 anos. Ela reside na Bahia e assim com Gisele não usava camisinha nas relações com seus respectivos companheiros.

Esse pensamento de que estando casada ou tendo um parceiro fixo diminui os riscos de contrair algumas doenças sexualmente transmissíveis não é verdade. Nos anos 90, se falava sobre grupo de risco, e quem fazia parte desse grupo eram os homossexuais e as prostitutas, mas com o passar dos anos isso foi mudando.

Gisele que, teoricamente, estava protegida se viu totalmente sem chão ao descobrir que tinha HIV/Aids. Mas como mencionado pelo médico Almir Santana, o número de mulheres positivas vem crescendo não só em Sergipe, mas em todo o país.

COMO É A VIDA DE UMA SOROPOSITIVA

“Vivo uma vida normal, tenho uma vida sexual ativa, minha família me ama, meus amigos me amam e hoje eu vivo bem. Não é hipocrisia, mas hoje eu vivo melhor sendo soropositiva do que antes. Hoje a gente dá ênfase ao amor, ênfase à vida, dá muito mais valor ao outro, ao próximo”, garante, Gisele, emocionada.

As mulheres soropositivas lutam para ajudar outras mulheres, para que a doença não atinja um número ainda maior de pessoas. Lutam também pelos direitos sexuais reprodutivos. Porque a mulher soropositiva não precisa se mutilar, não é necessário que se faça uma laqueadura. Ela pode ter filho, basta se cuidar, tomar a medicação direito e realizar alguns cuidados para evitar que a criança seja soropositiva.

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