segunda-feira, 2 de maio de 2011

HIV/Aids: mulher soropositiva pode sim ter filhos saudáveis

Matéria publicada no www.cinform.com.br

Por Andréa Oliveira

A pergunta mais frequente que passa na cabeça das pessoas é a seguinte: Mulher com HIV/Aids pode gerar filhos saudáveis? A reposta é sim e Gisele Dantas, soropositiva há 13 anos, é um exemplo disso. Hoje viúva e mãe de dois filhos – um deles foi gerado quando ela já estava infectada –, ela descobriu que tinha HIV quando estava grávida e após realizar alguns exames de rastreamento de sangue.

Nessa hora difícil, ainda sofreu um novo baque. “Quando descobri a doença eu tinha mais de 13 anos de convivência com meu companheiro e foi muito difícil porque ele me deixou”, conta. A criança não sobreviveu, mas isso nada teve a ver com a doença da mãe soropositiva. “Meu bebê não morreu por conta do HIV, mas sim por incompatibilidade de sangue. Porque o meu é O negativo e o do pai era A positivo. E meu filho também teve má formação cerebral”, disse.

Mas a doença não impediu Gisele de engravidar novamente. “Quando eu descobri que estava grávida, eu achava que estava assassinando mais uma criança, colocando uma criança no mundo doente. Mas isso é mito. Nós mulheres soropositivas podemos ter filhos saudáveis, e temos sim que fazer um controle”, conta. Hoje, a criança já tem 10 anos e é negativo para o HIV.

CUIDADOS

Durante a gestação, a mulher soropositiva deve realizar as visitas ao médico, começar a terapia antirretroviral seguindo as orientações do médico e do serviço de referência para pessoas que convivem com o HIV/Aids, fazer os exames para avaliação de sua imunidade (exame de CD4) e da quantidade de vírus (carga viral) em circulação em seu organismo.

Ela será submetida ao parto assistido, onde será realizada uma cesariana. Quatro horas antes do parto toma uma profilaxia na veia e quando o bebê nasce ele toma um xarope durante 45 dias. A mãe não pode amamentar a criança. Seguindo todos esses procedimentos, as mães soropositivas têm 99% de chance de terem filhos sem o HIV.

MEDICAMENTO

Para manter a doença sob controle é preciso que as pacientes façam a adesão ao tratamento. Dessa maneira, conseguem controlar sua carga viral e o CD4.“Muitas vezes a paciente acredita que está bem e que pode parar de tomar a medicação, e se engana porque, ao parar de tomar a medicação, se torna mais vulnerável a outras doenças. Com isso, acaba prejudicando o tratamento e tendo que recomeçar o longo caminho que já percorreu, mudando a medicação porque a anterior poderá não ter o mesmo efeito”, explica Almir Santana.

“Eu falhei no tratamento nas três primeiras vezes, porque achei que estava bem. Não dei ênfase à medicação e acabei abusando de noites de farra, bebendo”, lamenta Gisele. Quando ela descobriu que estava com Aids seu CD4 era 10, baixíssimo, e ela pesava 47 quilos, mas há sete anos vem seguindo a risca o tratamento e as mudanças são visíveis. “Hoje peso 89 quilos e o meu o CD4 é mil e alguma coisa, a carga viral já tá indetectável há sete anos por conta desse quarto esquema que eu estou seguindo a risca”, comemora.

De acordo com o médico Almir Santana, o Sistema Único de Saúde disponibiliza 20 medicamentos antirretrovirais diferentes para o tratamento da Aids. Também disponibiliza e amplia a oferta do teste rápido para que os estados e municípios possam agilizar diagnóstico da doença. “A Aids é uma doença crônica, ela não tem cura, mas os pacientes podem conviver com ela. Graças ao medicamento houve um prolongamento da vida”, esclarece Almir Santana.

O médico informa ainda que muitas pessoas que vivem com HIV/Aids são acometidas por Tuberculose, que é a principal causa de óbito, ou por toxoplasmose, uma doença transmitida por gatos e outros animais e que compromete principalmente o cérebro. Tratar as doenças oportunistas quando o diagnóstico da Aids é tardio, fica muito mais difícil. Por isso ele orienta as pessoas a realizarem o teste de HIV.

ENCONTRO DAS MULHERES POSITIVAS

De 13 a 15 de abril de 2011, Aracaju foi sede do II Encontro Regional das Cidadãs PositHIVas. Durante o evento foi falado muito sobre o significado da palavra adesão. O médico Almir Santana explicou que adesão não é somente tomar a medicação, mais ir ao médico regularmente e usar camisinha sempre.

“Porque quem tem HIV/Aids não só protege o outro como se protege, porque caso faça sexo com uma pessoa que também tenha o vírus, o medicamento que o paciente toma vai acabar não funcionando”, conta. E ele explica que existem tipos de HIV. Ou seja, uma mulher que tenha o HIV tipo 1 e se relaciona sem camisinha com um homem que tenha o HIV tipo 2, vai acabar gerando uma mutação. A partir daí tanto a medicação da mulher, quanto a do homem terão que ser modificadas, não mais terão o efeito que estavam tendo.

Mas o maior problema que uma pessoa soropositiva sofre é com o preconceito. E muitas pessoas por falta de informação ou por ignorância acabam se afastando das pessoas com HIV/Aids. A doença é pega através da relação sexual e não através de um toque, muito menos de um abraço, um beijo.

“Muitas mulheres se escondem, porque não é fácil conviver com o preconceito”, lamenta Rosaria Piriz. Ela que tem Aids há 14 anos diz que é por conta desse preconceito que muitas mulheres não dizem que são soropositivas. “O que mais me dói ainda é o preconceito, mas é por isso que não podemos nos esconder, é preciso mostrar que é possível viver com HIV/Aids, que o difícil mesmo é conviver com o preconceito”, enfatiza Gisele.

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