quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Final de ano

O ano passou tão rápido, vivi situações intensas, momentos incríveis e conheci pessoas de culturas diferentes. Aos 30 anos eu fiz uma tatuagem em plena Galeria do Rock em Sampa, coloquei na cabeça que faria, fui lá e deixei que um Corinthiano fizesse uma borboleta azul em mim, doeu um pouco, mas eu queria tanto ter o direito de desenhar algo no meu corpo, que a dor era o de menos. Há satisfação de realizar algo que pensava há anos me motivou.
Não me arrependo, na verdade esse ano (2013) eu fui muito mais eu. Viajei no carnaval para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, de vários blocos de rua – dancei em Ipanema, no Flamengo, em Botafogo e curtiu minhas noites da Lapa. Que viagem foi essa... Só posso dizer que foi o melhor presente de aniversário que eu podia ter me dado. “Todo mês de fevereiro... carnaval me chama” (Roberta Sá). Assisti um show dela na Lapa, de graça ao lado dos arcos. Noite estrelada e animadíssima com as minhas amigas Ju e Nay.
Em março dei uma passada rápida em Salvador. Em março inventei de ir a São Paulo, a terra da garoa me proporcionou assistir ao show do Pearl Jam e do Planet Hemp...
Maceió --- Curitiba --- Rio de Janeiro --- Belo Horizonte --- Ilha do Mel ---
Rabisquei esse texto ano passado, mas vou deixar para acabar qualquer dia desses ... Hoje é dia 30 de janeiro de 2014 - Dia da saudade.

Um corte... Um recomeço...

Comprei mais um livro da Martha Medeiros, mas na correria que anda a minha vida profissional acabei não o lendo, ai uma amiga pediu emprestado e eu tenho uma filosofia: “Os livros precisam ser lidos pelo maior número de pessoas”. Por isso, não me incomodo de emprestar nenhum deles. Inclusive o último que comprei dessa escritora intitulado a “A graça da coisa”, nessa obra uma crônica chamada “Amputação” fala um pouco do que eu estou vivendo.
A verdade é que nada é mesmo por acaso, e esse texto especificamente me foi indicado na hora certa, preciso mesmo amputar uma parte de mim, não me refiro a um pedaço do meu braço como fez o personagem do filme 127 horas, estou falando de cortar as mágoas que ainda carrego. De certa forma ainda me dói lembrar de algumas situações do meu passado, difícil esquecer de tudo que vivi, de coisas que prefiro não mencionar, mas que mudaram a minha forma de pensar e agir.
Aprendo a cada dia a lidar um pouco com isso, mas confesso que preciso fazer como o rapaz do filme (baseado em fatos reias) que escolheu arrancar um pedaço de si para sobreviver, o corte do braço como Martha citou na crônica não foi o problema, mas a solução do mesmo. A libertação do rapaz daquela pedra através da amputação de um dos seus membros era a sua única chance de sobreviver.
Eu preciso amputar o passado, olhar para frente e valorizar a chance que a vida me deu de recomeçar. Não é fácil, mas é possível. Nenhuma amputação será sem dor, isso eu sei de certeza, mas a libertação que ela trás vai me dá à chance de viver melhor, de ser mais feliz e de aproveitar intensamente todos os momentos.
Abaixo leia a crônica: Amputações (Martha Medeiros)
Quando o filme 127 Horas estreou no cinema, resisti à tentação de assisti-lo. Achei que a cena da amputação do braço, filmada com extremo realismo, não faria bem para meu estômago. Mas agora que saiu em DVD, corri para a locadora. Em casa eu estaria livre de dar vexame. Quando a famosa cena iniciasse, bastaria dar um passeio até à cozinha, tomar um copo d’água, conferir as mensagens no celular, e então voltar para a frente da tevê quando a desgraceira estivesse consumada. Foi o que fiz.
O corte, o tão famigerado corte, no entanto, faz parte da solução, não do problema. São cinco minutos de racionalidade, bravura e dor extrema, mas é também um ato de libertação, a verdadeira parte feliz do filme, ainda que tenhamos dificuldade de aceitar que a felicidade pode ser dolorosa. É muito improvável que o que aconteceu com o Aron Ralston da vida real (interpretado no filme por James Franco) aconteça conosco também, e daquele jeito. Mas, metaforicamente, alguns homens e mulheres conhecem a experiência de ficar com um pedaço de si aprisionado, imóvel, apodrecendo, impedindo a continuidade da vida. Muitos tiveram a sua grande rocha para mover, e não conseguindo movê-la, foram obrigados a uma amputação dramática, porém necessária.
Sim, estamos falando de amores paralisantes, mas também de profissões que não deram retorno, de laços familiares que tivemos de romper, de raízes que resolvemos abandonar, cidades que deixamos. De tudo que é nosso, mas que teve que deixar de ser, na marra, em troca da nossa sobrevivência emocional. E física, também, já que insatisfação é algo que debilita.
Depois que vi o filme, passei a olhar para pessoas desconhecidas me perguntando: qual será a parte que lhes falta? Não o Pedaço de Mim da música do Chico Buarque, aquela do filho que já partiu, mutilação mais arrasadora que há, mas as mutilações escolhidas, o toco de braço que tiveram que deixar para trás a fim de começarem uma nova vida. Se eu juntasse alguns transeuntes,aleatoriamente, duvido que encontrasse um que afirmasse: cheguei até aqui sem nenhuma amputação autoprovocada. Será? Talvez seja um sortudo. Mas é mais provável que tenha faltado coragem.
Às vezes, o músculo está estendido, espichado, no limite: há um único nervo que nos mantém presos a algo que não nos serve mais, porém ainda nos pertence. Fazer o talho, machuca. Dói de dar vertigem, de fazer desmaiar. E dói mais ainda porque se sabe que é irreversível. A partir dali, a vida recomeçará com uma ausência.
Mas é isso ou morrer aprisionado por uma pedra que não vai se mover sozinha. O tempo não vai mudar a situação. Ninguém vai aparecer para salvá-lo. 127 horas, 2.300 horas, 6.450 horas, 22.500 horas que se transformam em anos.
Cada um tem um cânion pelo qual se sente atraído. E um cânion do qual é preciso escapar.