segunda-feira, 14 de março de 2011

Doação: um gesto que salva vidas

Por: Andréa Oliveira (Matéria publicada no site: www.cinform.com.br)

Na Central de Transplantes não se sabe ao certo quantas pessoas necessitam de transplante de medula óssea. Mas Sergipe precisa de centenas de doadores de outros órgãos. No Estado há 602 pessoas na lista de espera aguardando por um transplante - 302 precisam de córneas e 300 necessitam de rins.

Para se ter uma idéia, da demanda de Sergipe, em 2009, foram realizados 18 transplantes de rim e 102 de córneas. Em 2010, foram sete transplantes de rim, 82 córneas e um de osso. Até fevereiro desse ano foram feitos 18 transplantes de córnea.

De acordo com o coordenador da Central de Transplante de Sergipe, Benito Oliveira Fernandez, o estado tem uma demanda grande, mas esbarra na falta de comunicação de casos de morte cerebral por parte da equipe médica e também na falta de informação dos familiares da vítima.

“A equipe médica nem sempre nós comunica. A Central é que fica monitorando os hospitais em busca de casos de morte cerebral. E quando encontramos é necessário que se realize uma série de exames para comprovar a morte do paciente, só ai podemos retirar os órgão”, informa.

Para ser um doador, a equipe médica do hospital tem que fazer o diagnóstico da morte encefálica. Se o paciente está em estado grave, vítima de traumatismo crânio-encefálico e tumoração no cérebro, por exemplo, respira com a ajuda de aparelhos e não tem atividade cerebral, ele é um doador em potencial.

A equipe médica então comunica à família do paciente que vai iniciar os procedimentos para comprovar a morte encefálica. São realizadas duas avaliações clínico-neurológicas feitas por médicos diferentes. Depois é feito um exame gráfico para comprovar se há atividade elétrica e fluxo sanguíneo no cérebro. Se comprovada a morte cerebral, a equipe emite o atestado de óbito e pede autorização à família para fazer a doação.

É nesse momento que a equipe da Central de Transplante encontra o segundo entrave na luta pela vida. A família do paciente por desconhecimento da legislação brasileira que regula os procedimentos realizados para confirmar a morte cerebral se recusa a doar os órgãos.

Este fato revela um dado preocupante. Apesar de numerosos doadores em potencial, a equipe da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos – CIHDOT - do Hospital Geral de Urgência de Sergipe – Huse -, não conseguiu captar nenhum órgão de pacientes que morreram na instituição.

Benito Fernandez cita que por conta dos avanços da tecnologia é possível manter um cadáver com o coração batendo. “As famílias acreditam que se o coração ainda está batendo o paciente ainda vive. Mas as pessoas precisam ter o conhecimento de que é o cérebro quem comanda todas as atividades do indivíduo. E que se a atividade do encéfalo parou significa que o paciente está morto”, conta.

Segundo o coordenador da Central de Transplante, se não for feita a retirada rápido do coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córneas, veias, ossos e tendões do paciente com morte encefálica, não será possível aproveitar alguns desses órgãos para salvar vidas. E é importante frisar que a retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra, e o doador terá a mesma aparência de antes.

AUTORIZAÇÃO

Sendo assim, após os exames para comprovar realmente a morte cerebral, a equipe médica deve tentar convencer a família a autorizar a doação dos órgãos o mais rápido possível. Para só assim o procedimento de coleta ser realizado.

Benito informa ainda, que mesmo que o paciente deixe por escrito o seu desejo de ser doador, isso não é suficiente para que a doação seja concretizada. “De acordo com a Lei 10.211/01 determina que o cônjuge ou parentes de até 2° grau (pai, mãe, avôs, irmãos, filhos e netos) são as pessoas responsáveis em assinar a autorização para a doação”, ressalta Benito.

Mas essa autorização nem sempre acontece a tempo. O problema é que muitas vezes a equipe médica acaba liberando os familiares para resolver os tramites do enterro e acabam com isso inviabilizando que eles assinem o termo em tempo hábil para que seja realizada a coleta dos órgãos. Com isso a equipe de transplante perde a chance de diminuir o número de pacientes que aguardam ansiosos por um doador compatível.

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